Na macumba me deram um bonde...

 

A fim de equacionar problemas pessoais, resolvi “tomar um axé” na macumba - e de quebra trocar uma lábia com a entidade que ali disponível estivesse no momento.

Por sorte, consegui ir numa gira de caboclos; rapaziada distinta, não falam palavrões e agem sem gritaria. Os caboclos são mais distintos, só fumam cachimbo e apreciam um marafo de procedência duvidosa.

Pois bem, levei umas baforadas de charuto na face e acoitadas de arruda ainda em galhos. Fiquei levinho e energizado – preparado para o dialogo com Pajé Sete Estrelas.

No recinto fiquei sabendo que o preço da consulta era 50 merreis; e convenhamos hein, desembolsar cinquentinha pra quem já está do lado de lá é duro viu. Cobra um Pai Nosso ou duas Ave Maria que já é de grande valia, mais tudo bem.

Depois do proceder com a entidade, fui pagar a consulta – dei uma nota de 100 e fiquei no aguardo do troco. Os atabaques pararam de tocar, e o povo começou sair fora, e eu continuava La, a espera do troco.

Depois de certo tempo fui atrás do que me era de direito, perguntado à assistente:

- Hey colega, me deves 50. Meu troco esqueceu?

- Ué não lhe avisaram?

- Avisaram o que?

- O Pajé solicitou aos presentes uma ajudinha extra, pois a casa passa por dificuldades.

- Como assim, mas eu não to podendo subsidiar ninguém não.

- Foi um empréstimo de sua parte ao plano superior. Aguarde e receberás em dobro, tenha fé.

-A é, tenha fé? O cara deve ta de brincadeira comigo, relatei minha situação no momento da consulta e mesmo assim ele deu dessas? Que salafrário.

- Não fale assim moço, sua vida pode andar pra trás.

 - Andar pra trás nada, isso é safadeza.  E avisa uma coisa pra esse Pajé, eu posso ter cara de otário, mas de Banco Cacique Jamais!

[Ouvindo: I Can't Turn You Loose (Show 3 - Otis Redding]