lar de escorpiões,
procura-se a greta entre as tábuas
do soalho
por onde se surpreenda a florescência
do corpo das mulheres
na sombra de vestido refolhados
que cobrem até os pés
a escultura cifrada.
Entro rastejante
dobro o corpo em dois
à procura da greta reveladora
de não sei que mistério radioso
ou sombrio
só a homens ofertado
em sigilo de quarto e noite alta.
Encontro, mina de ouro?
Contenho respiração.
Dispara o coração
no fim de longa espera
ao rumor de saias lá em cima
ai de mim, que nunca se devassam
por mais que o desejo aguce a vista
e o sangue implore uma visão
de céu e terra encavalados.
Nada
nada
nada
senão a sola negra dos sapatos
tapando a greta do soalho.
Saio rastejante
olhos tortos
pescoço dolorido.
A triste polução foi adiada.
Carlos Drummond de Andrade
[Ouvindo: Rene Mclean - Bilad as Sudan]
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