Debaixo da ponte do arcebispo, junto a uma verdadeira corte dos milagres, reúnem-se os mendigos.
Mendigos cristãos, mendigos ateus, mendigos budistas, mendigos muçulmanos, mendigos judeus.
Enfim, mendigos de todas as cores.
Discutem o resultado do sim e não a suas petições.
Discutem a desvalorização da moeda e a proliferação de falsos mendigos.
O mendigo cristão fala da perda de prestígio da caridade nos dias de hoje.
O mendigo ateu disserta sobre o não-deus e suas pouco eficazes prédicas no deserto.
O mendigo budista fala das dificuldades atuais de que padece a transparência do nirvana.
O mendigo muçulmano insiste na urgência de alguns fanatismos em nome de Alah.
O mendigo judeu lamenta que freqüentes ataques de ira de Jeovah caiam sobre sua cabeça.
E o mendigo de outras cores se queixa das queixas dos mendigos queixosos.
Depois, tudo termina e os peregrinos voltam às suas respectivas igrejas, maldizendo os usurpadores de seus respectivos direitos.
Enrique Gómez-Correa
Ouvindo: [Hector Lavoe - No hay quien te aguante]
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